Quando soube que a GVT iria oferecer serviços de banda larga via fibra óptica, comecei a pesquisar para tentar descobrir qual tecnologia a empresa utilizaria: GPON ou active ethernet. Nesse processo, passei por vários fóruns, blogs e reportagens, que nem sempre divulgavam informações factíveis – a quantidade de "achismos" é muito grande.
Através da análise de informações colhidas da imprensa em geral e de algumas fontes da área de telecom, além da análise dos equipamentos utilizados pela empresa (nos postes, prédios, clientes, etc), é possível fazer uma espécie de "engenharia reversa mental" da rede da GVT.
Ao tentar entender a rede da GVT e fazer algumas inferências, percebi que a GPON não se encaixava naquele modelo. Em um dos fóruns pelos quais passei, uma pessoa escreveu como se tivesse certeza absoluta que a tecnologia utilizada pela GVT era GPON. Naquela época (há uns 2 ou 3 anos) a GPON, segundo algumas opiniões, estava quase se concretizando como o padrão de facto para fornecer triple play via fibra óptica no mundo todo – inclusive no Brasil. Entretanto, nunca vi a GPON fazendo sentido para uma empresa como a GVT, que desde o início de suas operações comerciais no ano 2000 já possuía uma rede NGN, que vem sendo expandida ano após ano.
Mas porque a GPON não faz sentido para a GVT? Segundo os proponentes das tecnologias xPON, a grande desvantagem do active ethernet é que ele necessita de componentes "ativos" no campo, isto é, equipamentos eletricamente ativos acomodados em gabinetes ou armários em algum lugar "nas ruas". E o custo de ter componentes ativos "nas ruas" é alto – isto é, necessita um capex (gasto inicial de capital) maior – o que tornaria a tecnologia não tão atraente do ponto de vista financeiro. Entretanto, esse é justamente o fator que torna o active ethernet atraente para a GVT, visto que ela já possui componentes ativos no campo – a infraestrutura foi criada assim desde o início da empresa.
Utilizando armários multisserviço, a GVT pode oferecer tanto voz quanto banda larga através das várias tecnologias oferecidas pela empresa, como ADSL, ADSL2+, VDSL2 e FTTH. Os armários da GVT geralmente ficam situados em lugares protegidos, como prédios residenciais ou comerciais e não "nas ruas". Sendo assim, adicionar um switch ethernet modular ao armário não é mais difícil ou complicado que adicionar módulos ADSL, ADSL2+ ou VDSL2. Mas como eu sei que a GVT utiliza armários multisserviço? Sinceramente, não achei nenhuma informação direta a respeito disso, mas é fácil inferir: se a empresa utiliza um mesmo armário terrestre para atender clientes com conexões ADSL, ADSL2+, VDSL2 e FTTH, esse armário só pode ser multisserviço.
Então, para a GVT, o active ethernet cabe perfeitamente em sua infraestrutura, ao contrário da GPON. Nenhum fator tecnológico impediria a GVT de utilizar GPON mesmo tendo componentes ativos no campo, mas se o propósito de utilizar splitters passivos - inerentes às tecnologias xPON - é justamente evitar o uso de equipamentos eletricamente ativos no campo, não faria nenhum sentido. Mas a prova definitiva de que esta inferência está correta veio quando achei este site, que confirma o active ethernet como a tecnologia FTTH utilizada pela GVT. Trata-se de um site com informações para investidores, onde constam informações públicas sobre a GVT, incluindo as tecnologias utilizadas pela empresa (esta informação está na página 33 do documento online).
Mas a melhor maneira de analisar estas informações e colocar as inferências à prova é utilizando a tecnologia em si. Ao contratar o serviço Power GVT de 100 Mbps (eles usam o termo "Mega", mas me recuso a fazer o mesmo) tive a possibilidade de conhecer um pouco mais sobre a infraestrutura da GVT.
No caso do FTTH, se o cliente é o primeiro a solicitar o serviço na área servida pelo armário correspondente (nem sempre é o armário mais próximo do cliente), a fibra é trazida do armário até uma "bolsa coletora" (ou fiber dome closure), instalada na rede aérea em frente ao endereço do cliente. A figura abaixo mostra a bolsa coletora instalada na rede aérea em frente a empresa.
A finalidade da bolsa coletora é trazer um ponto de conexão tanto para o cliente que solicitou o serviço quanto para futuros clientes na área. A partir dela sai uma fibra até o DG (Distribuidor Geral) da empresa – não porque necessite de uma conexão via DG, mas porque o DG é (geralmente) o ponto de entrada para os cabos de telecomunicação em um prédio – e dali até o local especificado pelo cliente para a instalação dos equipamentos.
O cabo de fibra que vem da bolsa coletora é então cortado e é realizada uma emenda a dois outros cabos (um para downstream e outro para upstream) conectados a uma interface mini-GBIC. Na foto abaixo, os dois cabos azuis estão conectados à interface mini-GBIC:
A interface mini-GBIC é então conectada a um conversor de mídia (foto abaixo), que converte o gigabit ethernet óptico em gigabit ethernet elétrico.
É interessante notar que a GVT optou por fornecer um link com capacidade de até 1 Gbps para os clientes FTTH, mesmo oferecendo um serviço de no máximo 100 Mbps. O motivo é óbvio: no futuro, velocidades maiores poderão ser oferecidas aos clientes, apenas utilizando o devido software de gerência da rede, desde que haja capacidade nos anéis (ou subanéis) ópticos que interligam os armários ao CO (Central Office). Prova disto, é esta matéria do Estadão, afirmando que a GVT pretende oferecer até 200 Mbps para assinantes residenciais nas novas redes metropolitanas sendo construídas (como em SP, por exemplo).
Outro fato marcante a respeito das escolhas tecnológicas da GVT, é que o protocolo utilizado para dar acesso ao cliente é o "bom e velho" ethernet: ao contrário da GPON, não existe necessidade de equipamentos customizados, caros e complexos (ONU/ONT) no lado do cliente, bem como camadas de protocolos complexos (ex. GFP) para encapsular o ethernet – apenas um conversor de mídia e ponto final. Aliás, se o cliente possuir um servidor ou roteador com uma interface gigabit ethernet óptica (1000BASE-LX/SX), nem precisará do conversor de mídia.
A GVT também fornece um roteador wireless em comodato, que pode variar de fabricante (assim como o conversor de mídia). No meu caso esse roteador não foi utilizado, uma vez que a interface gigabit ethernet do conversor de mídia foi conectada diretamente a um servidor proxy.
A autenticação é feita da mesma maneira que nas conexões xDSL – através de PPPoE. Basta configurar o usuário e senha do provedor (no caso da GVT, não é necessário um provedor externo – apenas se o cliente assim desejar) e a conexão é autenticada. Em tese, a autenticação não seria necessária, mas provavelmente aconteça por uma questão de segurança e/ou contabilização do acesso.
Depois de toda essa "teoria", a pergunta que permanece é: "e a qualidade do serviço?". Bom, neste quesito a GVT manteve o padrão que possui (pelo menos aqui na região Sul) – de muito bom à excelente. Sobre o padrão da GVT: a esmagadora maioria dos clientes GVT que conheço – incluindo a mim mesmo – está plenamente satisfeita com os serviços da operadora, tanto de telefonia quanto de banda larga.
Ao realizar o teste de velocidade da GVT (www.testepower.com.br) a velocidade não apenas alcança os 100 Mbps como quase sempre excede-os, como era de se esperar. Certa vez, a velocidade alcançada foi de mais de 500 Mbps. Entretanto, gosto de realizar testes de velocidade mais "realísticos", utilizando o www.speedtest.net ou mesmo efetuando download de imagens ISO de DVD (geralmente do Gentoo Linux, no mirror da UFMG). A figura abaixo representa um print screen de um teste realizado no servidor speedtest.net do PoP (Point of Presence) da RNP (Rede Nacional de Pesquisas) em Florianópolis, Santa Catarina:
Atualização: a figura abaixo exibe o print screen do teste realizado no servidor speedtest.net hospedado pela COPEL, disponível neste link, conforme sugestão do amigo Maurício Brixner:
Sendo que o contrato de serviço prevê 100 Mbps de downstream e 10 Mbps de upstream, esses valores podem ser considerados excelentes.
Sendo que o contrato de serviço prevê 100 Mbps de downstream e 10 Mbps de upstream, esses valores podem ser considerados excelentes.
Já a figura abaixo mostra um download sendo realizado do servidor FTP da UNICAMP:
Com uma taxa de transferência de 8,3 MBps (megabytes por segundo), temos uma velocidade de 8,3 x 8 = 66,4 Mbps (megabits por segundo), ou 66,4% da velocidade máxima possível. Estes 8,3 MBps foram alcançados no pico da transferência – a taxa média ficou em 5,5 MBps. Obviamente, o fator limitante aqui foi o servidor FTP e não o link da GVT. A prova disto é que em outros testes já realizados onde foi efetuado download do mesmo arquivo, porém no servidor HTTP da UFMG, o pico da taxa de transferência alcançou pouco mais de 11 MBps (sendo que o máximo para 100 Mbps é 100 / 8 = 12,5 MBps).
A conclusão a que podemos chegar, baseando-nos nestes fatos, é que a GVT tem feito uma série de boas escolhas tecnológicas nestes 10 anos de operação, que proporcionam uma boa (senão ótima) qualidade de serviço aos clientes e que hão de proporcionar um caminho tranquilo para o futuro, inclusive com a oferta de IPTV, já anunciada em vários sites de notícias desde 2008 (por exemplo, aqui).